Por Ana Cláudia Matias.
Pelo menos foi esta a sensação que eu tive ao realizar o Processo Seletivo para o “Programa de Ação Afirmativa do Instituto Rio Branco – Bolsa-Prêmio de Vocação para a Diplomacia” no último final de semana dias 10 e 11 de Dezembro.
De acordo com o edital, o objetivo da seleção é “ampliar as oportunidades de acesso aos quadros do Ministério das Relações Exteriores e incentivar e apoiar o ingresso de afrodescendentes (negros) na Carreira de Diplomata,” por isso eles estão concedendo as bolsas-prêmio para o custeio de estudos preparatórios, sejam eles na compra de livros, mensalidades em Concursos de Admissão á Carreira de Diplomata, pagamento de professores especializados, dentre outros gastos que o estudante tem durante sua preparação em qualquer concurso. Além de suas despesas com sua própria manutenção.
Mas, notei que áqueles que se inscreveram ou não leram o edital, ou simplesmente dizem ser negros para obter a bolsa de estudos no valor de R$25.000,00 ( vinte cinco mil reais). Enquanto, me sentí bastante receosa em me inscrever para tanto, pelo fato de eu fazer parte da classe média de Brasília. Outras raças, naqueles dois dias se converteram em negras, havia japoneses de cabelo lisos, brancos de olhos verdes, que da herança negra somente tinha os cabelos encaracolados, além daqueles que no dia-a-dia se apelidam “moreninhos(as), moreno(a) cor de jambo, marrom bombons”. E, o pior é havia uma branca de cabelos encaracolados que estudou para o Rio Branco com esta bolsa de estudos fornecida pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico eTecnológico (CNPq).
No sábado, voltei para casa indignada com tantos negros, e no domingo questionei á uma negra do cabelo duro, igual á mim que muito desembaraçou seu cabelo com o pente garfo. O quê ela havia achado dos “negros” do processo seletivo, ela também disse que ficou assustada, e que havia chegado em cima da hora no sábado, e se questionado se ela estava no lugar certo. Quando um moreninho, estava passando por negro, disse que também havia ficado abismado com a quantidade de “negros” nessa prova. E, complemetou, que não havia feito a redação inglês porquê sabe o básico desta língua, o insuficiente para escrever um texto de no mínimo 30 linhas. Tudo bem que a prova de redação em inglês é classificatória, e não eliminatória. Mas, este sim é o verdadeiro “negro” embora dia após dia, não assuma sê-lo, mas tem dificuldades, por exemplo, no aprendizado da língua inglesa, porquê precisa trabalhar e não tem tempo para aprendê-la. Peguei o ônibus, com este senhor, ambos descemos na parada o Pátio Brasil shopping, enquanto eu fui me divertir, ele estava voltando para trabalhar no hospital de Base do Distrito Federal. Esse sim, é o verdadeiro negro, e que merece a bolsa!!!!
Então vem a questão, o quê Centro de Seleção e de Promoção de Eventos ( CESPE) da Universidade de Brasília ( UnB) realmente leva em conta nesse processo seletivo? Seria a cor da pele, entitulada como “negra”? a classe social ? Talvez convença - se provar que é negro e pobre. Mas, como uma branca conseguiu estudar com bolsa este ano? Será que a intelectualidade ao passar nas provas comprove a “negritude” da pessoa? Porquê se levarmos em conta a miscigenação brasileira seriamos todos negros.. E, diante da bolsa de R$ 25.000,00 ( vinte cinco mil reais) temos todos o pé na sensala, todos temos um avô, uma avó, um tio, que escureceu a família.
Acredito que este processo seletivo deveria ser distinto, primeiro a pessoa prova que é negra, pobre e necessitada, e que realmente não tem condições de financiar seus estudos na preparação do Instituto Rio Branco. E, os selecionados fariam uma prova de seleção. Porquê deste processo até eu seria excluída, ou seja “embraqueceria”.